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sexta-feira, 18 de março de 2011

Pedro Boucherie Mendes, falou e disse:

Em primeiro lugar, não tenho a certeza de que vivemos em crise. Tenho mesmo muita dificuldade em acreditar nisso - refiro-me a Portugal e à Europa. Crise vive-se em África, onde as pessoas são pobres de facto. Crise é as pessoas meterem-se em barcos na Somália para chegarem até Itália. Para mim, um gajo não poder ir a Nova Iorque tantas vezes quantas gostaria não é crise.
O problema do desempregado que estiver a ler esta entrevista não deve ser reduzir o número de viagens a Nova Iorque.
Obviamente que depende do desempregado de que estamos a falar. Sem querer ser chocante - embora me esteja a cagar -, estou preparado para estar desempregado. Isto quer dizer que tenho dinheiro de parte; quer dizer que tenho uma casa boa, mas abaixo das minhas posses; quer dizer que o meu filho anda numa escola pública, quando poderia andar no Saint Julian s, porque tenho dinheiro para isso. Estou preparado para estar desempregado. Se o desempregado que estiver a ler esta entrevista estiver irritado porque o problema dele não é poder ir a Nova Iorque, na minha opinião ele quer ter um emprego para poder ir a Nova Iorque e comprar um iPad. Não consigo conceber um país onde as pessoas não andam de scooter e andam todas de Smart. Qualquer parque de estacionamento de uma universidade está cheio de carros de estudantes. Este país está em crise? É demagógico o que estou a dizer? Pode ser considerado demagógico, mas não acho que seja. Por que é que em Portugal não há scooters? Por que é que os putos não vão de scooter para o Bairro Alto beber copos e vão de Smart? Já as pessoas que vivem na Covilhã e foram para o desemprego porque a fábrica fechou - isto para caricaturar outro tipo de desempregado - têm mecanismos do Estado à sua disposição, como o subsídio de desemprego e o rendimento mínimo. Embora este não seja um discurso politicamente correcto, estou a tentar pôr as coisas em perspectiva. É evidente que em todas as sociedades há situações dramáticas. Mesmo que Portugal estivesse a crescer 18% ao ano haveria pessoas no desemprego. Mas creio que as pessoas vivem melhor do que aquilo que julgam, porque em Portugal vigora a política do não conta .
O que é isso da política do não conta ? 

Há um gajo que diz: Eh pá, estou desempregado, isto está péssimo . Mas tu tens uma casa no Algarve e vais para lá todos os fins-de-semana no Verão . Eh pá, mas isso não conta, um gajo tem de espairecer . Portugal é o país da Europa com maior taxa de segunda habitação. Portugal é o país da Europa onde os estudantes têm mais computadores portáteis. Mas isso não conta. Os festivais de música estão sempre cheios, mas isso também não conta. E depois vemos reportagens - e isso dá-me vontade de rir - sobre pessoas que estão em situação dramática, mas têm empregada doméstica. Se eu ficasse desempregado, uma das primeiras coisas que faria seria despedir a minha e passava eu a lavar a roupa. Não deve ser muito difícil. E os telemóveis também não contam.

6 comentários:

  1. Eu li essa entrevista dele. Acho que, em imensos pontos, consegue resumir a forma como os portugueses realmente, e infelizmente, vêem as coisas.

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  2. Lá está..com mentalidades destas, não é facil!!

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  3. infelizmente é a sociedade que temos..

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  4. Também li a entrevista e acho que tem razão em muitos pontos. Hoje, li a entrevista na Visão, sobre as manias dos portugueses e o livro que vai publicar. Confesso que não sou fã de Pedro Boucerie Mendes, mas tenho de assumir que ele diz algumas veradedes e acima de tudo, tem coragem para dizer...
    Acho que vou acabar por comprar o livro na próxima semana... a curiosidade é superior ao mau feitio do Boucherie, lol

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  5. Acho que também vou comprar, tb tenho imensa curiosidade ;) e para mim o Pedro Boucherie tb não é o santo da minha devoção, mas teve coragem em falar!!!

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